A madrugada de 16 de julho, na Estação Ferroviária da Azambuja, é envolvida pelo silêncio dos comboios que descansam. Nada acontece, apenas uma brisa ligeira que nem barulho faz. Há algo, no entanto, que vai irromper pela noite e que há muito está a ser preparado pelas equipas da Infraestruturas de Portugal (IP): o ligar das máquinas que desempenham um papel fundamental na fiabilidade, segurança e capacidade da ferrovia portuguesa, no presente e no futuro. Ali, no troço entre Lisboa-Santa Apolónia e Santarém, está prestes a acontecer um Ataque Mecânico Pesado (AMP), um processo essencial, mas muito pouco conhecido, que assegura a qualidade da Linha do Norte, a mais utilizada do país.
Recuemos umas semanas, antes de as máquinas se colocarem sobre os carris, para conhecer o processo de preparação para o 'Ataque Pesado'. Primeiro, são realizadas várias inspeções com o veículo de inspeção EM-120 que faz uma leitura dos dados geométricos da via. Estes são alvo de análise minuciosa pelas equipas multidisciplinares da IP e posteriormente é realizado um planeamento detalhado e coordenado entre todos os intervenientes. Cada metro de via identificado para intervenção passa por várias fases de validação até à aprovação final. Só depois se emite a ordem de serviço que autoriza o arranque dos trabalhos.
"Trata-se de um trabalho invisível, mas absolutamente vital", sublinham os técnicos da IP envolvidos.
O relógio marcava 1h32 quando entrou em ação o chamado grupo de ataque completo. O nome pode ser assustador, mas a atacadeira apenas faz uma coreografia de precisão para levantar e ajustar travessas, corrigindo os alinhamentos que são verificados ao milímetro através do gráfico de medição tão milimétrico que impressiona até os mais experientes. Atrás, no grupo, vem a regularizadora que trata do balastro, varrendo e moldando a pedra que suporta os carris. No fim, a estabilizadora simula a passagem de 100 mil toneladas, garantindo que a via fica compacta e pronta a receber comboios sem restrições de velocidade. Um conjunto de máquinas imponentes, que fazem um trabalho cirúrgico sobre os carris. Sem conflito nem alarme, apenas no silêncio da noite.
Ainda na Estação da Azambuja, o arranque dos trabalhos é precedido por todo um processo que cumpre as mais rigorosas normas de segurança, porque numa operação desta escala não há qualquer margem de erro. Primeiro as pessoas, protegidas com os equipamentos de proteção individual e o vestuário de proteção. Depois a via, interdita, com corte de tensão na catenária e coordenação estreita entre via, sinalização, catenária e controlo de circulação. Uma reunião prévia junta todos os intervenientes. Todos sabem o que fazer até à autorização final. Quando autorização é dada, as máquinas avançam para o Ponto Quilométrico (PK) estabelecido da via ascendente na Linha do Norte. E ali ficaram quase três horas. Todos os anos, na Linha do Norte, o AMP é executado nos troços que apresentam maior desgaste. Este tipo de intervenção é programado com base em inspeções técnicas regulares e no histórico de cada segmento da linha. Em casos de degradação súbita ou de obras mais complexas, pode ser necessária uma atuação extraordinária.
Todo este trabalho permanece invisível para quem passa diariamente nos comboios que ligam Lisboa ao Porto, ou Santarém a Coimbra. Mas é inegável que cada minuto ganho em segurança e conforto, tem dias de planeamento e noites de intervenção por parte de equipas técnicas e máquinas especializadas: "O AMP é mais do que um procedimento técnico. É o que garante que a ferrovia cumpre a sua missão: ligar pessoas, territórios e negócios com confiança", resume um dos responsáveis da Infraestruturas de Portugal.
A campanha entre Santa Apolónia e Santarém terminou a 21 de julho, mas em outubro regressa para intervenções adicionais em aparelhos de via. Desta vez, sem estabilizadora, porque o contexto técnico assim o exige. Até lá, os comboios continuam a passar — rápidos, regulares e seguros — porque alguém, nas madrugadas quentes ou frias, trata de cuidar de uma das linhas que move o país.
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