2022 ficou marcado pelo deflagrar da Guerra na Ucrânia, mas também pelo início da recuperação económica pós-pandemia de Covid-19. A expectativa para 2023 era de um ano de retoma integral da vida empresarial, ao mesmo nível de 2019. Mas o impacto de uma inflação em progressão ascendente, com uma intensidade severa, levou a alguma contração na confiança das empresas, especialmente no momento de investir na modernização dos equipamentos e máquinas para portefólio próprio.
Equipamentos Volvo em operação, disponíveis para aluguer pela Ascendum.
As empresas do setor do aluguer de máquinas para construção e equipamentos acreditam que este facto levou a um aumento da procura por pelos seus equipamentos, em detrimento da aquisição. O que num certo momento se apresentou como um problema, para as empresas de aluguer representou uma oportunidade.
A procura por equipamentos está intimamente indexada ao aumento das empreitadas. E este é um argumento unânime entre os players: a indústria da construção em Portugal vem claramente a evoluir assumindo um comportamento ascendente. O que é confirmado pelos números divulgados no relatório da AICCOPN – Associação das Indústrias de Construção Civil e Obras Públicas de fevereiro referente ao fecho do ano 2022, que tem como base os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Verifica-se um aumento de 6,7% do PIB em 2022, o mais elevado desde 1987, após o aumento de 5,5% em 2021, que se seguiu à diminuição histórica de 8,3% em 2020. Em paralelo, e tal como constata a AICCOPN, o setor da construção seguiu a tendência, com uma evolução favorável na generalidade dos indicadores setoriais em 2022.
Destaca-se ainda no mesmo relatório, que “o consumo de cimento no mercado nacional registou um aumento de 1,5% em termos homólogos, para 3.836 milhares de toneladas, em 2022, o que corresponde ao melhor registo desde o ano 2011”.
Cilindro compactador terras H13i ECO, alugado pela LoxamHune.
Com a evolução e o crescimento do mercado da construção em Portugal, apesar dos constrangimentos causados pelo impacto da pandemia por Covid-19, pela Guerra na Ucrânia, aumento dos custos de energia e descolagem da taxa de inflação, surge a necessidade de fazer um retrato do setor, com particular foco para o mercado do aluguer de maquinaria.
Fomos saber junto das principais empresas do setor do aluguer de máquinas e equipamentos qual a avaliação que fazem sobre a evolução do mercado, quais as suas perspetivas para o futuro e como estão a encarar a transição energéticas nas suas operações e qual a representatividade nos seus parques de máquinas disponíveis para aluguer.
Hugo Filipe Fonseca, diretor de Área Portugal da LoxamHune, no que respeita ao balanço da operação do ano anterior e perspetivas de futuro, admite que “2022 foi excelente para a LoxamHune Portugal porque apresentámos um crescimento superior a 30% face a 2021. Foi um ano em que superámos todas as expectativas, batendo recordes de contratos, propostas efetuadas e taxas de ocupação”. Complementa dizendo que “tal se deveu a fatores externos como a evolução favorável na generalidade dos indicadores no setor da construção, mas essencialmente a aspetos internos”.
Sobre esta questão, remata dizendo que “na LoxamHune temos a máxima de que os recordes existem para serem batidos e conseguimo-lo vezes sem conta, devido ao trabalho e ambição de uma equipa da qual me orgulho de fazer parte e liderar”.
Já Celso Amorim, director de Aluguer de Equipamentos Ascendum, assume que “não existindo estatísticas oficiais sobre o mercado específico de aluguer de máquinas e equipamentos em Portugal, não nos é possível aferir, com rigor, o comportamento deste mercado. Face à evolução que sentimos na procura e na atividade das empresas de referência no setor, estamos em crer que o mercado, em 2022, tenha crescido na ordem de 5 a 10% face a 2021, estando parte desse valor nominal relacionado com o aumento dos custos da operação”.
Escavadora de rastos Volvo EC750E, da Ascendum.
“A tipologia de obras a decorrer em cada momento dita que tipo de equipamentos são alugados”, afirma Hugo Filipe Fonseca, acrescentando que, atualmente, em Portugal obras como “o Entreposto de Loures e o Mercadona de Almeirim, que apresentam uma enorme procura de plataformas a diesel e dos denominados multifunções. Tal cenário não apresenta grandes diferenças se analisarmos as necessidades da ampliação do Metro de Lisboa ou do Porto ou do Centro Comercial Colombo, por exemplo representam boas oportunidade de negócio”.
No que concerne a dados concretos sobre o aluguer de equipamentos e respetivas taxas de ocupação, Hugo Filipe Fonseca afirma que “em termos de percentagem a LoxamHune apresenta uma ocupação real (dias faturados e não em contrato) superior a 65% em todas as famílias. Deste modo, é fácil perceber que, em algumas, as percentagens superam, facilmente, os 80%. Se pensarmos no tempo necessário para transporte de entrega e recolha das máquinas e para a sua manutenção e revisão adequadas percebemos o quão assombrosos são estes números. Porque importa referir que na LoxamHune todas as máquinas são alvo de inspeções rigorosas de modo a garantir a sua produtividade, mas acima de tudo a segurança dos utilizadores”.
Em termos de percentagem de equipamentos, a Ascendum avança que “em unidades, o segmento de elevação será o mais representativo, na atividade de aluguer de equipamentos de construção, seguido das escavadoras compactas (<10ton) e retroescavadoras”.
A transição energética revela-se fundamental em qualquer setor da indústria, e neste sem exceção. Devido ao custo de aquisição, e a todas as condicionantes já mencionadas, as empresas de construção não poucas vezes optam por recorrer aos equipamentos que necessitam em regime de aluguer. Reduzindo por um lado os custos de aquisição, e optando por requerer equipamentos de motorização elétrica, reduzindo em muitos os seus custos de operação, e contribuindo para a redução da pegada de carbono na indústria.
Com vista à descarbonização da indústria tem-se assistido à tentativa de algumas empresas em renovar os seus parques de máquinas, optando por máquinas elétricas ou de combustíveis mais verdes. Mas tal facto, ainda não se verifica em plano nas empresas de aluguer de equipamentos, muitas vezes por força da fraca procura, outras vez pela ainda limitada oferta de modelos elétricos por parte das marcas que representam.
A LoxamHune revela-nos que do seu parque de máquinas e equipamentos para o setor da construção, sensivelmente 60% da frota tem o selo 'Lox Green', o que significa que estão em linha com aquilo que foi definido pela empresa a nível ibérico.
Celso Amorim, explica que “a sustentabilidade e proteção do ambiente são conceitos há muito presentes nas orientações estratégicas da nossa representada Volvo e a eletromobilidade é uma das grandes apostas da Volvo no desenvolvimento tecnológico dos seus equipamentos”.
Reforça dizendo que “a Volvo é pioneira no desenvolvimento de equipamentos de construção elétricos, contando atualmente com três modelos de escavadoras compactas, dois modelos de pás carregadoras compactas e uma escavadora de 23Ton, totalmente elétricas, no seu portefólio de produtos”. Sublinhando que “planeiam incluir na sua frota de aluguer, a primeira escavadora compacta elétrica Volvo, durante o 2º semestre de 2023”.
Mini Carregadora, LoxamHune.
A análise que as empresas fazem ao nível de procura ou de comprometimento do cliente que aluga os seus equipamentos, revela-nos que ainda existe pouca sensibilidade na escolha do tipo de motorização dos equipamentos. Da parte da LoxamHune, Hugo Filipe Fonseca explica que “as pessoas ainda estão pouco sensíveis quanto a este tema, razão pela qual parte do nosso trabalho comercial reside precisamente na apresentação e explicação das vantagens associadas a estas soluções. É precisamente por não procurarmos apenas alugar uma máquina, mas sim em sermos um parceiro, que está presente e aconselha, que ganhamos quota de mercado dia após dia”.
Celso Amorim, da Ascendum, explica que como no caso “da oferta de máquinas de construção elétricas, pelos fabricantes, dentro das tipologias na frota de aluguer Ascendum, ainda é reduzida, sendo ainda prematura a avaliação do impacto na procura, todavia, assistiremos certamente à conversão de máquinas com motores a combustão interna, por equipamentos elétricos ou com recurso a outras fontes de energia alternativas”.
As dificuldades que algumas empresas do setor da construção civil estão a viver, muito agravado pelo aumento dos custos de matérias-primas e inflação, podem estar a levar ao aumento do aluguer de equipamento em vez da compra.
Celso Amorim, admite que “mais do que o aumento dos custos ou as dificuldades das empresas do sector, pensamos que a imprevisibilidade tem sido o fator que mais concorre para a preferência pelo recurso ao aluguer em detrimento da compra de equipamentos. No contexto de volatilidade a que assistimos no mercado de construção e obras públicas, as empresas têm dificuldade em planear a compra de equipamentos, enquanto investimentos a médio/longo prazo, optando muitas vezes pelo aluguer, como forma de limitar a utilização dos equipamentos à estrita necessidade de cada obra e assegurar assim o controlo dos custos associados”.
Hugo Filipe Fonseca, considera que “neste momento, e dadas as importantes obras que estão a ser feitas no nosso país, não se nota assim tanto essas dificuldades. Não obstante, é indiscutível que contribui para essa nova dinâmica no mercado. O valor de aquisição das máquinas tem subido de forma significativa, os prazos de entrega das mesmas são uma coisa nunca antes vista (ou imaginada) e a tesouraria das empresas apresenta maiores fragilidades razão pela qual os alugadores são, sem margem para dúvidas, a melhor solução. Compete-nos a nós continuarmos a evoluir na nossa oferta e serviço, de modo a contribuirmos para essa mudança de mentalidade. Não podemos ficar à espera de que fatores exógenos façam esse trabalho por nós”.
Perspetiva-se uma evolução do mercado da construção em Portugal, ainda assim, os especialistas mostram-se contidos na concretização de tais perspetivas, pois a instabilidade do cenário geopolítico externo, que influencia a nossa economia interna assim o obriga.
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Engeobras - Informação para a Indústria de Construção Civil, Obras Públicas e setor mineiro