Já no antigo Egito, as minas e pedreiras eram trabalhadas para extrair de forma hercúlea os tão importantes blocos de granito e calcário, bem conhecidos pela criação dos imponentes monumentos construídos com essa matéria prima: pirâmides, majestosos palácios e elaborados sarcófagos. Seguindo o curso da história, a extração mineira evoluiu e tornou-se hoje numa indústria economicamente muito relevante, representando uma importante fonte de recursos vitais para a produção de matérias-primas necessárias à vida moderna, que alimentam outras indústrias, como é o exemplo da construção civil, das tecnologias de informação, da indústria farmacêutica, da cerâmica e do vidro, entre outras.
Com a evolução e a crescente procura pela pedra natural e recursos minerais portugueses, com o aumento da preocupação pelas questões de sustentabilidade e pelas metas ambientais impostas pela União Europeia à indústria, surge a necessidade de fazer um retrato do setor da indústria mineira em Portugal, conhecendo as suas preocupações, os resultados obtidos e os seus projetos. Incidimos igualmente sobre a maquinaria especializada, apresentando as principais inovações e tecnologias que oferecem a este setor.
Escavadora Hitachi ZX490CLH.
A indústria mineira tem vindo a crescer em Portugal, potenciada não só pela escassez de matérias-primas decorrentes da pandemia e posteriormente pela guerra Rússia-Ucrânia, mas também pelo crescimento da construção civil, que levaram a uma exponencial procura pelos recursos minerais nacionais, mais concretamente, pela pedra natural portuguesa.
Este é um setor que regista atualmente “mais de 2.600 empresas a operar, para um total de quase 19.000 trabalhadores. O volume de negócios ascende a mais de 1.700 milhões de euros, que concorre para 1,8% do PIB nacional. Importa ainda referir que o setor apresenta um VAB de 654 milhões de euros”, adianta Célia Marques, vice-presidente executiva da Assimagra.
O mercado externo representa para este setor um importante motor de desenvolvimento de negócio. Apesar do crescimento da indústria da construção civil e de estarem no horizonte a realização de diversas obras públicas, potenciadas acima de tudo pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), e que poderão fazer crescer ainda mais o setor mineiro e dos recursos minerais, os números revelam que a exportação continua a suportar grande parte da atividade das empresas deste setor.
Segundo dados disponibilizados pelo Boletim Mensal da Estatística do Comércio Internacional, divulgado pela Assimagra, os “dados provisórios relativos aos primeiros oito meses do ano revelam que o setor já exportou mais de 335 milhões de euros. Demonstram ainda uma tendência de continuidade no crescimento do volume de negócios, com 15,55% de aumento face ao período homólogo”.
Conforme declarações de Célia Marques, “este é um setor fortemente exportador e com uma balança comercial bastante favorável na ordem dos 500%. Para estes valores contribuem fortemente as exportações dos minérios metálicos, com 623 milhões de euros de exportações e a pedra natural, com 435 milhões de euros”.
Em paralelo com o que se verifica noutras indústrias, também neste setor se tem sentido uma grande dificuldade em atrair e reter talentos. A escassez de mão de obra e a falta de atratividade para captar trabalhadores especializados é uma realidade também na mineração. “Para além destas dinâmicas, atualmente o setor extrativo depara-se com um paradigma importante ao nível dos recursos humanos e que está ligado à publicação da Portaria n.º 88/2019, que vem permitir que a idade normal de pensão de velhice fixada no regime geral de Segurança Social seja reduzida em um ano por cada dois de serviço efetivo, com o limite de 50 anos de idade para direito à pensão por velhice”, adianta Célia Marques. Esta atualização da lei “veio encurtar em muito os ciclos de exercício de funções no setor”.
As metas ambientais representam igualmente uma preocupação do setor, que já está a trabalhar no sentido da descarbonização das suas indústrias. São vários os projetos que pretendem mitigar a pegada de carbono decorrente da sua atividade, quer seja através da aquisição de maquinarias que reduzam as emissões, quer pela digitalização dos seus processos ou até mesmo pela automação.
“No que respeita à indústria extrativa e transformadora que representamos, existem já muitas empresas a trabalhar em modelos inovadores neste setor, que aportam maior produtividade e eficiência energética aos processos. São já em número bastante expressivo, as empresas a adotar sistemas de produção e equipamentos híbridos e/ou elétricos, com o objetivo de minimizar os custos de produção e tornar os processos mais sustentáveis em toda a sua cadeia de valor”, assegura Célia Marques.
Dando o seu contributo, a Assimagra submeteu recentemente uma “candidatura ao roteiro para a descarbonização do setor da pedra natural, como meio para alavancar a descarbonização desta indústria e capacitar as empresas para esta temática e, deste modo, concretizando a transição para uma economia neutra em carbono. Pretende-se promover uma interação entre diversos atores e partes interessadas, desde os profissionais do setor da pedra, fornecedores de energia, fornecedores de tecnologia, entidades do Governo e clientes finais, capaz de explorar um conjunto de medidas e boas práticas de sustentabilidade que possam contribuir para a redução das emissões de carbono oriundas do setor”.
O crescimento do mercado, a necessidade de redução das emissões e as preocupações ambientais, fizeram crescer, consequentemente, a procura por maquinaria para a extração mineira mais sustentável, mais eficiente e inovadora.
Fomos saber, junto dos principais fornecedores de equipamentos para esta indústria, como veem a evolução deste setor, de que forma as marcas que representam estão já a apostar em soluções eletrificadas ou de baixas emissões, quais as vantagens desta transição e, por fim, quais as suas mais recentes novidades.
Segundo o diretor comercial da Moviter, Rui Faustino, o balanço que fazem do último ano de vendas de equipamentos para este setor é muito positivo. O responsável sublinha que “graças à consistência e resiliência dos empresários ligados ao setor da pedra natural, e apesar das dificuldades sentidas pelos mais dependentes das exportações com destino ao mercado chinês, a Moviter registou, em 2021, um dos seus melhores anos na venda de escavadoras de grande porte, com particular destaque para o modelo ZX490LCH-7, da marca japonesa Hitachi, atualmente o modelo mais popular nas pedreiras portuguesas”.
No que diz respeito ao tipo de máquinas mais vendidas em Portugal, para este setor, segundo dados apresentados pela Moviter, distribui-se da seguinte forma: “De um total de, aproximadamente, 2 000 máquinas vendidas em 2021, destacam-se as miniescavadoras (até às 7 toneladas) com uma fatia de 35%, seguidas das escavadoras de rastos (acima das 7 toneladas) com 27% e das mini pás carregadoras com 11%”.
Por seu lado, Hugo Bexiga, Retail & Marketing Manager na STET, adianta que “apesar das dificuldades sentidas em termos de disponibilidades de componentes, que de uma forma transversal afetou todos os operadores do mercado, a STET registou em 2021 uma melhoria significativa o que nos ajudou a alavancar as vendas da empresa neste setor”. Para a STET, as pás de rodas, escavadoras e camiões rígidos continuam a ser “os equipamentos mais procurados no setor das pedreiras, máquinas estas de elevado porte e configurações especialmente desenhadas para esta aplicação”. Hugo Bexiga admite ainda que “as escavadoras e pás de rodas representam hoje quase 50% dos equipamentos em funcionamento nas pedreiras. No setor das minas, as pás de rodas mineiras continuam, dentro do nosso portfolio, a ser o modelo mais procurado, pois oferecem a combinação entre o carregamento e o transporte das matérias extraídas”.
Quando questionado sobre o caminho já percorrido no sentido da transição energética, das marcas que representa, Rui Faustino, diretor comercial da Moviter, diz-nos que “quer a Hitachi, quer as marcas que compõem o Grupo Wirtgen – Wirtgen, Vögele, Hamm, Kleemann, Benninghoven e Ciber – tem os seus gabinetes de R&D a trabalhar afincadamente no desenvolvimento de novos produtos, sejam eles híbridos, elétricos ou autónomos”. Acrescenta ainda que a “Hitachi dispõe já de vários modelos de escavadoras elétricas dos 2 500 kg de peso operativo aos 16 000 kg, com a vantagem de poderem ser carregadas enquanto trabalham. A Hamm lançou recentemente os primeiros cilindros elétricos HD12E, alimentados a baterias de lítio e a Vögele apresentou nesta edição da Bauma as primeiras pavimentadoras elétricas da série Compact Line. A marca finlandesa Avant tem dois modelos elétricos de mini pás articuladas com vários acessórios conhecida por ser um equipamento multifunções. E a referência nos equipamentos de gestão de resíduos Doppstadt, há muito que comercializa equipamentos elétricos”.
A eletrificação da maquinaria para este setor irá representar inúmeros benefícios, não só pela redução de ruído que melhora o ambiente de trabalho para o operador, mas também pela redução de peso dos equipamentos. Rui Faustino, evidencia algumas dessas vantagens: “Os custos de manutenção, a diminuição das perdas de carga que conduz a uma maior eficiência operacional, o custo hora do equipamento, o conforto para o operador e para quem o rodeia em resultado da redução do ruído, a robustez dos equipamentos e uma maior previsibilidade dos custos de utilização”.
Para a STET, as marcas que representam estão também num bom caminho no que respeita à redução de emissões. Segundo Hugo Bexiga, “tanto a Caterpillar como a Sandvik, apresentam um compromisso sólido com o ambiente, nomeadamente desenvolvendo soluções cada vez mais sustentáveis, que passam não só pela eletrificação dos seus equipamentos, como também na operação remota e autónoma. Tecnologias estas que vêm beneficiar o ambiente e marcar uma viragem muito importante em termos de segurança para todos os intervenientes”.
Sublinha que a “telemetria de equipamentos e pessoas, e as tecnologias de monitorização de produção que há muito disponibilizamos na STET, garantem ainda que os ativos do cliente estão sempre em níveis de operacionalidade e produtividade muito elevados, reduzindo os consumos de combustível e consequentemente as emissões nocivas para a atmosfera”.
Das marcas que o Entreposto Máquinas representa para o setor mineiro e, especificamente, para pedreiras, a Case Construction Equipment foi a que revelou a maior novidade. O representante lembra que “a Case lançou este ano - e apresentou oficialmente em Portugal, no início de outubro -, as novas escavadoras de rastos série E, para já com modelos de 13 a 30 toneladas, mas que irão até às 70 toneladas nos modelos que chegarão ao mercado, tudo indica, em 2023”.
Este lançamento incorpora tecnologia que permite a estas escavadoras “ter a melhor relação entre controlo e velocidade no setor e um consumo de combustível incrivelmente económico, tudo isto cumprindo já o nível de emissões Stage V”, acrescenta o Entreposto Máquinas.
Escavadora Case CX300E e dumper articulado Bell.
Entre as novidades, destaque ainda para os dumpers articulados da Bell, equipados com Motor Mercedes-Benz Euro VI. “Com painel digital e diagnóstico total, sem necessidade de máquina de diagnóstico e caixa de carga aquecida, que permite uma descarga mais eficaz. Transmitem um conforto surpreende ao operador e apresentam tecnologia de ponta em todos os detalhes”, salienta a empresa.
No que respeita a novidades apresentadas pelas marcas representadas da Moviter, Rui Faustino reforça a importância que a conectividade ganhou nos últimos anos. “A partilha de informação entre os equipamentos na pedreira e quem os gere melhora a produtividade, reduz custos e tempos de paragem, e aumenta o tempo de vida útil do equipamento”.
De facto, a informação e o planeamento do trabalho em suportes digitais, bem como a monitorização e controlo dinâmico de processos em tempo real fazem parte das tendências do setor. “As novas soluções digitais vêm revolucionar a forma como trabalhamos, com sistemas de leitura, softwares de tratamento de dados, comunicação e gestão de processos em rede”, afirma Rui Faustino, lembrando que “a Hitachi e o Grupo Wirtgen têm investido bastante na telemetria, permitindo a donos, engenheiros, gestores, encarregados e operadores, conhecer melhor o nível de desempenho dos seus equipamentos, o consumo de combustível, a localização, a aproximação de revisões, avarias, entre muitas outros parâmetros, extremamente importantes no sector mineiro e pedreiras”.
A automação de movimentos e de ciclos de trabalho é outra inovação com vantagens no setor das pedreiras. O diretor comercial da Moviter sublinha ainda o que considera ser “uma vantagem exclusiva da Hitachi”: os sensores de óleo, patente da marca japonesa. “Equipadas com sensores de óleo hidráulico e de motor, as escavadoras Hitachi monitorizam a condição destes óleos ao segundo e alertam no caso de alguma alteração evitando a ocorrência de problemas com as bombas e com o motor”.
Britador de maxilas QE 341 e crivo de escalpe QJ341, ambos da Sandvik, e pás de rodas CAT 966K, em trabalhos de pedreira.
Já para a STET, as novidades centram-se na automação. Segundo Hugo Bexiga, “a grande novidade passa sem dúvida pela operação remota e pela operação autónoma. A automação de máquinas foi um dos maiores desenvolvimentos em tecnologia na última década, e benefícios significativos podem ser obtidos mesmo com as aplicações mais simples. As tecnologias podem ser usadas sozinhas ou combinadas de várias maneiras para aproveitar os ganhos imediatos de produtividade, eficiência e segurança. Utilização quase ininterrupta das máquinas, operações mais consistentes e a capacidade de remover as pessoas das zonas de insegurança é a grande inovação que estas tecnologias oferecem ao setor”.
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Engeobras - Informação para a Indústria de Construção Civil, Obras Públicas e setor mineiro