ENTREVISTA 22 designadamente dos subsetores da cerâmica, do vidro, da construção civil, da indústria farmacêutica, das tecnologias de informação e da própria economia verde que irão ser profundamente afetadas com a diminuição da disponibilidade de matérias-primas. Assim, este diploma não só vem contrariar decisões recentes da União e da Comissão Europeias, que defendem o aumento da produção de matérias-primas minerais dentro do espaço europeu, assegurando cadeias de valor mais autónomas, seguras e sustentáveis, mas também contradiz, em si, a própria Constituição da República Portuguesa que define estes depósitos minerais como bens do domínio público devendo a decisão de viabilizar um projeto de revelação ou aproveitamento de recursos minerais competir às entidades licenciadoras com experiência reconhecida nesta matéria 'e não às comunidades ou câmaras municipais'. São preocupações que nos movem enquanto setor e que importa urgentemente reverter. O combate às alterações climáticas tem como principais bandeiras a transição energética das indústrias e a redução de consumo de energia. Considera que, neste setor, as empresas já estão despertas para esta necessidade? Começam já a adotar métodos emaquinaria híbrida ou elétrica? Vivemos num contexto onde as exigências são crescentes tanto a nível ambiental como tecnológico. Foi delineada uma estratégia ambiciosa para a União Europeia e para o país, onde a expressão transição energética é indicada como o caminho certo a seguir, e o nosso setor dos recursos minerais tem uma importância fulcral neste caminho, pois somos um setor gerador de matérias-primas minerais que estão presentes no nosso dia-a-dia, nos mais diversificados produtos. A consciência que os consumidores e a sociedade têm hoje perante a sustentabilidade climática, obriga-nos a cada vez mais incorporarmos o custo da sustentabilidade nos nossos produtos e a procurar na inovação resposta para as grandes transformações que serão inevitáveis nesta mudança de paradigma. É, por isso, preciso desde logo ter consciência que o modelo de globalização pode sofrer transformações e que não vamos conseguir ter acesso a todos os produtos que hoje vemos como padrões de procura. No que respeita à indústria extrativa e transformadora que representamos, existem já muitas empresas a trabalhar emmodelos inovadores neste setor que aportam maior produtividade e eficiência energética aos processos. São já em número bastante expressivo, as empresas a adotar sistemas de produção e equipamentos híbridos e/ou elétricos, com o objetivo de minimizar os custos de produção e tornar os processos mais sustentáveis em toda a sua cadeia de valor. Da parte da Assimagra, submetemos recentemente uma candidatura ao roteiro para a descarbonização do setor da pedra natural, como meio para alavancar a descarbonização desta indústria e capacitar as empresas para esta temática e, deste modo, concretizando a transição para uma economia neutra em carbono. Pretende-se promover uma interação entre diversos atores e partes interessadas, desde os profissionais do setor da pedra, fornecedores de energia, fornecedores de tecnologia, entidades do governo e clientes finais, capaz de explorar um conjunto demedidas e boas práticas de sustentabilidade que possam contribuir para a redução das emissões de carbono oriundas do setor. Que projetos ou iniciativas destacampara o próximo ano, que tenhamcomo finalidade última a promoção do setor? Em 2023, pretendemos continuar o trajeto da inovação no campo da promoção do setor. Contamos lançar um novo projeto que irá potenciar novas colaborações entre diferentes clusters, através de uma abordagem experimental de junção de diferentes materiais, tendo por base incentivar a inserção da pedra portuguesa nas cadeias de valor internacionais de excelência. Neste âmbito, será iniciada uma campanha coletiva de promoção internacional com produtos diferenciadores e de maior valor acrescentado, que permita continuarmos a elevar a oferta coletiva da pedra portuguesa, e a sua integração com diferentes materiais sustentáveis. Complementarmente, manteremos a dinamização damarca que nos distingue enquanto setor - a StonebyPortugal - nas participações coletivas emmercados internacionais e, sempre que possível, nos momentos mais marcantes do setor. Finalizando, numa altura de grandes incertezas dos mercados a nível global, como prevê que o setor irá evoluir a curto, médio e longo prazo? Ao longo dos últimos 15 anos, a Comissão Europeia e o Parlamento tornaram-se cada vez mais conscientes dos desafios à segurança do aprovisionamento de determinadas matérias-primas e produtos, o que se reflete em várias comunicações, estudos, relatórios e resoluções. Concluiu-se que várias matérias-primas e produtos (minerais) são fundamentais, não só para a transição da União Europeia (UE) para uma economia verde e digital, mas tambémpara a sua resiliência económica e social e a segurança. Estas matérias-primas (minerais) são consideradas críticas para permitir à UE seguir a sua desejada trajetória de desenvolvimento socioeconómico. Mais recentemente, surgiram novos desafios devido à pandemia do Covid-19, ainda emcurso, os impactos geopolíticos e económicos resultantes da agressão da Rússia contra a
RkJQdWJsaXNoZXIy Njg1MjYx